sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

FARMACÊUTICO ATUANDO EM GRUPOS DE APOIO TERAPÊUTICO




Luciano Henrique Pinto

Os medicamentos, apesar de serem utilizados para produzir resultados positivos, se não utilizados de maneira adequada podem trazer danos a saúde. Isto ocorre devido a falhas em farmacoterapia, fenômenos que podem ser, em sua grande maioria, previsíveis e passíveis de prevenção. As intervenções que podem resultar em prevenção destas falhas podem ser feitas individualmente ou coletivamente. A Grupo Terapia tem se mostrado útil em situações em que pessoas apresentam problemas semelhantes, e com seu alcance coletivo, passa a ser uma importante ferramenta nas estratégias de promoção a saúde.

Podemos definir grupo como “um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, se propõem de forma explícita ou implícita à realização de uma tarefa, que constitui sua finalidade, interatuando para isso através de complexos mecanismos de adjudicação* e assunção** de papéis”. Isto reflete principalmente na possibilidade de trocas de experiências sobre um determinado tema, que pode levar ao melhor entendimento de um dado problema, ou o encorajamento para enfrentar uma dada situação, apresentada por uma pessoa que vivencia tal problema, e não apenas pela visão acadêmica  de um profissional da saúde.
*Adjudicação = entregar a outro o que é seu
**Assunção = assumir o que é dos outros para si

CARACTERISTICAS DE UM GRUPO TERAPÊUTICO

Grupos Terapêuticos são reuniões em que a característica principal refere-se às Partes de inter relacionam. São muito mais que um somatório de indivíduos, mas uma identidade com regras próprias e um objetivo comum e que apresenta interação afetiva. Quem lida com grupos tem que ter em mente que o grupo não é local de depósitos de informações, mas sim de construção da cidadania,

TIPOS DE GRUPOS TERAPÊUTICOS

  • Fechado: Não aceita a participação de novos membros, devido a construção de intimidade e identidade forte.
  • Aberto: Qualquer um pode participar
  • Homogêneo: Só admite assuntos relacionados com o propósito que levou a criação do grupo (a doença em comum, por exemplo)
  • Heterogêneos: Aceita qualquer tipo de assunto

DESENVOLVIMENTO DE TEMAS

  • Expositivo: Somente o apresentador do tema fala do assunto. Recomendado quando se vai abordar um tema mais complexo, que exige uma opinião especializada e livre de mitos ou sensos comum.
  • Psico drama: Representação teatral que pode contar com a participação dos membros do grupo. Recomendada para tratar de assuntos delicados que poderiam constranger alguns membros do grupo.
  • Debate / Intercâmbio: Estimulo ao debate e a troca de experiências. Ideal para a o compartilhamento de pessoas que lidam a muito tempo com determinada doença, e possuem saberes práticos sobre o tema.
  • Dinâmicos / Atividades manuais – motoras: Trabalhos manuais visa promover a diversão e o aprendizado do grupo de uma nova atividade.

PLANEJANDO UM GRUPO TERAPEUTICO NA LÓGICA DOS CUIDADOS FARMACÊUTICO

1. Definição do Tema

O tema pode ser decidido em conjunto ou pelos profissionais. Pode se relacionar com datas comemorativas, acontecimentos recentes, ou fatos marcantes para o grupo, que estejam relacionados ao tema dos medicamentos. Assuntos como adesão, modo correto de utilizar, automedicação são de trato obrigatório nestes grupos.

O planejamento é a etapa crucial para a atividade, e o objetivo deve ser claro e conciso, atendendo as necessidades do grupo. Deve ser elaborado de forma que responda ao seguinte questionamento: Ao final do encontro, os participantes devem obter informações e trocar experiências visando, por exemplo:
  • Estar aptos a entenderem o risco da automedicação
  • Terem a conduta frente a situação : “adesão farmacoterapêutica
  • Ter uma compreensão melhor a respeito do tema “terapias alternativas”, “uso de medicamentos durante a gestação”.

 

2. Funções e Tarefas

Os Grupos Terapêutico necessitam de uma estrutura mínima no qual fique evidenciado a função que compete ao organizadores da atividade. Um grupo pode ser desenvolvido contando com um Coordenador, Sub-coordenador, Relator, Observador. As funções de cada membro são apresentadas a serguir:

  • Coordenador: Função de coordenar, fomentar e direcionar a comunicação do Grupo, mantendo a linha de debates  no sentido do objetivo traçado.
  • Sub-coordenador (opcional): Auxilia o coordenador, auxiliando o coordenador na função de atingir o objetivo. Trata-se de um olhar extra na condução do Grupo.
  • Relator: Faz o relatório e ata do desenvolvimento do Grupo.
  • Observador (opcional): Auxilia toda a equipe, na condução das atividades.

3. Contrato / constituição de regras:

É imprescindível que o Grupo planejado tenha as suas regras definidas, e estas deverão ser apresentadas ao inicio da atividade, sendo clara para todos os participantes. O contrato / regras objetiva a organização da atividade e uma estratégia para não fugir do tema ou objetivo. São exemplo de regras: “perguntas só no final”, “não deveremos expor nossos colegas”, “a apresentação terá um momento de debate”, etc.

O DESENROLAR DE UM GRUPO TERAPÊUTICO: PAPÉIS QUE SE ASSUMEM:

Todo Grupo Terapêutico apresenta uma dinâmica de papéis que lhes são bem comuns. São papeis assumidos pelos componentes que visam o equilíbrio entre a mensagem passada, a receptividade do que esta sendo exposto e a resistência frente ao que esta sendo apresentado de novo ou desafiador. O planejamento do grupo deve contar com este papeis, e antever possíveis situações que tais personagens podem apresentar no desenrolar da atividade.

  • Líder de mudança: é aquele que se encarrega de levar adiante as tarefas, se arriscando diante do novo. 
  • Líder de resistência: puxa o grupo pra trás, freia avanços, sabota tarefas e remete o grupo sempre à sua etapa inicial. Os dois são necessários para o equilíbrio do grupo.
  • Porta-Voz: é a chaminé por onde fluem as ansiedades e reivindicações do grupo.
  • Bode expiatório: é aquele que assume os aspectos negativos do grupo; todos os conteúdos latentes que provocam mal-estar, como culpa, medo, vergonha.
  • Os silenciosos: são aqueles que fazem com que o resto do grupo se sinta obrigado a falar, assumindo a dificuldade dos demais para estabelecer a comunicação.

DIFICULDADES DO TRABALHO EM GRUPO

A resistência apresentada por alguns participantes tem muito a ver com o medde mudança que lhe é apresentado. Muitos tendem a viver em uma zona de conforto, e a brusquidão que uma determinada exigência de alteração do comportamento possa criar gera diversos tipos de medos, como:
  • Medo da perda – ansiedade depressiva
  • Medo do ataque – ansiedade paranóide
  • Medo de encontrar-se vulnerável frente a uma nova situação
A técnica recomendada neste caso é mostrar que o novo não é abandonar prazeres, ou valores já adotados, mas sim rever algumas condutas, refletir sobre a mesmas e sobre o que é importante na vida de cada um. Tal processo necessita que o tema seja focado nos aspectos positivos, e no respeito à decisão de quem não quer mudar

RECOMENDAÇÕES FINAIS

Evite usar o “mas”, quando responder a um questionamento ou comentário, porque é muito invasivo e desafiado, utilize sempre “é mais pertinente”...

Evite usar o “entendeu?”. Significa o mesmo que “como não é capaz de?”. Prefira o “ fui claro?”

Valorize sempre a experiência que o outro traz. Lembre-se: tem coisas que a ciência não explica, e nem por isto significa que não são válidas, talvez seja a ciência incapaz de explicar certas coisas...”

Evite fazer exposições longas, o grupo esta ali para se libertar por meio do conhecimento, e não para ser depositário de informações...

Saiba o que interessa o grupo. Falar sobre os valores ótimos de pressão para quem tem a doença a 25 anos deve ser bem chato...

Fuja do foco da prevenção, da doença e direcione o grupo para a PROMOÇÃO A SAÚDE...

Recorde sempre das regras do encontro, Persiga sempre o objetivo do encontro e fale a linguagem do grupo...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Pereira ALF. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad Saúde Pública 2003 setembro-outubro; 19(5):1527-34.

2. Valsecchi EASS, Nogueira, MS. Comunicação professor AL no: Aspectos relacionados ao estágio supervisionado. In: Mendes IAC, Carvalho EC, coordenadores. Comunicação como meio de promover saúde. 7º Simpósio Brasileiro de Comunicação em enfermagem; 2000. junho 5-6; Ribeirão Preto, São Paulo. Ribeirão Preto: FIERP; 2000. p. 99 -103.
.
3. Farah OGD. A ansiedade e a prática no processo ensino aprendizagem de habilidades psicomotoras: técnicas de preparo de medicação parenteral. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1996.

4. Osório LC. Grupos: teorias e práticas - acessando a era da grupalidade. Porto Alegre (RS): Artmed; 2000.

5. Bechelli LPC, Santos MA. O paciente na psicoterapia de grupo. Rev Latino-am Enfermagem 2005 janeiro-fevereiro; 13(1):118-25.

6. Guanaes C, Japur M. Fatores terapêuticos em grupo de apoio. Rev Bras Psiquiatria 2001 setembro; 23(3):134-140.

7. Bechelli LPC, Santos MA. Psicoterapia de grupo: como surgiu e evoluiu. Rev Latino-am Enfermagem 2004 marçoabril; 12(2):242-9.

8. Mackenzie KR. Time-limited group psychotherapy. Int J Group Psychother 1996; 46(1):41-60.

Um comentário:

  1. Acredito que o trabalho com grupos de apoio facilita as relações interpessoais e enfoca o tratamento de problemas e dificuldades, especialmente em doenças crônicas, proporcionando também oportunidade para troca de experiências e vivências, além de possibilitar a interação entre pacientes e profissionais da saúde. Assim, os grupos podem estar auxiliando no conhecimento de informações, discutirem os medos, e ansiedades sendo oportunidade para compartilhar idéias, expressar sentimentos e trocar experiências com outras pessoas que vivem situações similares. O farmacêutico inserido num grupo de apoio assume responsabilidades no cuidado com o paciente, por meio da prática da Atenção Farmacêutica, que são identificados inúmeros problemas relacionados aos medicamentos (PRM) e dificuldades na adesão ao tratamento farmacológico, visando também à promoção do uso racional de medicamentos.

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